Este texto é uma resposta à provocação feita pelo milionário Tim Gurner do setor imobiliário que disse num evento que o desemprego teria que aumentar em 30%, 40% para diminuir a arrogância dos trabalhadores, se desculpando posteriormente. Particularmente, achei que ele estava falando sobre o corpo feminino, o corpo da mulher. Parece existir aí um desejo de estímulo a maternidade a fim de que se eleve a oferta de mão-de-obra (pra ontem) e assim, a ampliação no exército industrial de reserva pressione os salários para baixo. Ao explicar como o sistema reprodutor feminino, o corpo da mulher pode ser usado para elevar as taxas de lucro do capitalista, esta relação entre entre sistema reprodutor feminino, reprodução de mão de obra, salários e lucros capitalistas e/ou apresentar como um estimulo ou desestimulo a maternidade, a gestação pode influenciar a margem de lucro do capitalista dou início a publicação do meu programa de pesquisas titulado economia diância (EcoDiânica) e/ou Economia da saúde da mulher. Trata-se do estudo dos sistemas capitalistas em conjunto com o corpo de Gaia e o corpo da mulher. Como busco este entendimento, usando a teoria do caos, acredito que um útero no formato de borboleta expresse bem a ideia.

Durante um tempo em minha vida, acho que por durante 14 anos escrevi sobre as interações entre capitalismo e corpo de Gaia e agora, reviso este pensamento e incluo o corpo da mulher no estudo das questões econômicas e ambientais. Isso porque é meu desejo intensivo e também porque sabemos que todo estudo que envolve ecologia, economia que não inclua a questão da mulher já começou cometendo um enorme erro e não pode apresentar uma resposta consistente.
Tenho pensado e estudado sobre isso e me oriento muito pelo que tem escrito a historiadora Silvia Federici. E em relação aos corpos femininos, principalmente relacionado ao corpo da mulher o que tenho descoberto é que existe uma ligação orgânica, um acoplamento estrutural entre sistema capitalista e sistema reprodutor feminino. Para o bem ou para o mal, no sistema reprodutor feminino está a vitalidade e a possibilidade de colapso dos sistemas capitalistas. Isso porque para manter a taxa de lucro do capitalista, os salários não podem ser muito altos, devem no máximo serem suficientes para pagar a reprodução de vida do trabalhador. O salário deve no máximo tornar possível ao trabalhador retornar no outro dia para trabalhar e assim é feito. Isso, para que uma fatia maior desse salário não pago seja expropriada pelo capitalista e seja mantido um padrão persistente de super exploração do trabalho. E para manter esta taxa de salário estável é necessário que exista um exército industrial de reserva, ou seja, pessoas desempregadas procurando emprego. Pela lei da oferta e procura quanto maior o número de pessoas procurando emprego, menores os salários. Se você reduz o número de pessoas procurando emprego, os salários elevam porque a mão de obra se torna escassa e a taxa de lucro do capitalista cai. Portanto, é necessário que exista sempre um grande número de trabalhadores trabalhando e um grande número de trabalhadores ociosos para pressionar para baixo o salário daqueles que estão trabalhando. E por fim, para manter esse exército industrial de reserva é necessário que uma grande quantidade de mulheres estejam parindo o tempo todo, estejam dando a luz a novos seres, cuidando dos mesmos ali em seus estágios iniciais, amamentando, depois ensinando a falar, a educar, auxiliando em sua formação, tornando-os em sujeitos efetivos, educados, prontos para o trabalho. Enfim, a renovação da força de trabalho e a manutenção do exército de reserva passa primeiro pelo sistema reprodutor feminino, pelo corpo da mulher. E é um trabalho que é também é expropriado pelo capitalista, pois não é pago. Um sistema reprodutor feminino saudável, operante e que esteja a serviço do sistema é importante para manter a lucratividade do capitalista. Por esta perspectiva, uma mulher cria um filho de duas uma : ou para trabalhar, ser explorado ou b) para ficar desempregado e pressionar o salário dos que estão desempregados para baixo. E todos os discursos em torno da maternidade, em torno dos relacionamentos, o amor romântico, a constituição da família tradicional é constituída para que isso flua a contento. De tal forma que se este sistema reprodutor entra em pane, começa a aparecer no mesmo pústulas, cistos, cânceres e comece uma espécie de descrença na maternidade ou este por algum motivo se negue a renovar a força de trabalho, o sistema tende a se desintegrar. Bem! A taxa de natalidade tem caído ao longo dos anos. No entanto, é até compreensível porque atualmente não se necessita mais de tantos braços quanto no passado para realizar o trabalho, a revolução industrial e a revolução verde possibilitou esta redução. Mas, se a taxa de natalidade ou o exército industrial de reserva (EIR) por um ou outro motivo cair além do esperado, pode-se observar alguns capitalistas meio preocupados como vimos recentemente este milionário dizendo que é necessário aumentar o desemprego para lembrar a quem o trabalhador serve e para elevar os lucros. Enfim, o que ele está dizendo é que é necessário no mínimo, no mínimo aumentar a taxa de natalidade e repor o EIR afetado pela pandemia.
A verdade é esta, o controle da força de trabalho feminino, mais que isso, o controle dos úteros – algo negligenciado por Marx na escrita do capital e por isso, o capital está incompleto – é imprescindível para manutenção do capitalismo, para que este continue remunerando as várias formas do capital. Sem os úteros e sem a Terra (que na verdade trata-se de um grande útero demente, gigante e magnético), o capitalismo se desintegra.
Ao estudo em conjunto dos sistemas econômicos e corpos femininos (corpo de Gaia, corpo da mulher e outros corpos femininos) chamo de EcoDiânica. Eco do Grego Oikos e diânica, no neopaganismo e na bruxaria, fazendo referência a exclusividade feminina, ao que é exclusivamente feminino, trata de fazer esta integração dos corpos femininos ao Oikos. Esse estudo não é apenas importante para corrigir esta falha marxista, mas para visualizar algumas bases para para uma economia da saúde da mulher e para se ter um entendimento mais sério a respeito da saúde da mulher. Muitos problemas que afetam o corpo da mulher não se deve a questão de dieta ou falta de responsabilidade das mesmas, mas está ligada a questões estruturais e conjunturais. E no mais, porque o sistema capitalista além de recorrer aos úteros na renovação da força de trabalho e ao trabalho da mulher na formação de nova força de trabalho emana sobre estes mesmos corpos toxidades que tendem a um ponto crítico e inesperado de enfermidades. Enfim, ele não apenas explora, mas contamina aquilo que lhe dá sustentação. E por fim, acho que seja importante porque devido ao entendimento marginal, cria ravinas dentro da ciência econômica.
Chamo de Ecodiância e Economia da saúde da mulher porque são conceitos criador por mim. Como bem tratou sobre isso, Silvia Federici, Marx não considera a força de trabalho da mulher na acumulação primitiva do capital. Engels dá uma pequena esbarrada no fator de produção Terra na crítica ao programa de Gotta
