As ciências econômicas possui duas divisões importantes. Trata-se da microeconomia e da macroeconomia. Na microeconomia estuda-se as variáveis econômicas ao nível individual como as decisões de agentes como compradores e vendedores interfere nos níveis de preços e nas maneiras como concorrerem entre si (monopólios, monopsônios, concorrência monopolística etc). Já a macroeconomia estuda isso tudo a nível agregado. Estuda-se o volume de produção, os salários, o nível de emprego, a inflação, o ciclo econômico, suas expansões e recessões e como isso afeta a vida das pessoas a nível de bem estar.
Um dos componentes importantes do estudo da macroeconomia é a demanda agregada. A demanda agregada que também é conhecida por produto, por renda e Produto Interno Bruto (PIB) é composta por Consumo das famílias (C), Investimento (I), Gastos do governo (G) e pelo saldo das exportações (X-M), ou seja, pelas exportações menos as importações. É isto que o governo busca expandir quando quer melhorar o desempenho econômico de um país, os níveis de renda e emprego e claro, seu desempenho político. Elevar qualquer uma destas variáveis significa elevar a popularidade de um governo.
Cada estímulo a demanda agregada implicaria na elevação da renda, do produto, do PIB. Ou seja, toda vez que o governo estimulasse o consumo das famílias, disponibilizando mais renda, toda vez que elevasse os investimentos, os gastos governamentais e a exportação, acabaria estimulando a demanda agregada e assim, elevando o produto e consequentemente o nível de emprego. E ele realiza estes estímulos por meio de políticas econômicas, sejam elas políticas fiscais e políticas monetárias. Na política fiscal ele investe em saúde, em infra-estrutura, estradas, portos, aeroportos, programas de transferência de renda seja por meio de gastos ou por meio da política tributária. Na política monetária ele pode alterar as taxas de juros, elevar ou reduzir a taxa de redesconto bancário ou por meio da venda de títulos. Isso tudo, acabaria por elevar a quantidade de moeda disponível e estimular os gastos, ou seja, a demanda agregada e consequentemente os níveis de renda e emprego.
Estímulos a demanda agregada e impactos ambientais e ecológicos
Ocorre que para cada nível de estímulo a demanda agregada e logicamente de produto, há um impacto sobre o ambiente, sobre o corpo de Gaia. Isso porque em média, toda atividade econômica ocorre em função de um meio que a contém e elimina sobre este mesmo ambiente alguns efeitos. Isso porque qualquer atividade econômica, em média, seja ela dada por aumentos no consumo, aumento nos investimentos, nos gastos do governo ou nas exportações acabaria por demandar deste ambiente um volume maior de recursos naturais, na forma de desmatamento, maior utilização do solo, de jazidas e dos usos dos recursos hídricos, eliminando sobre este ambiente partículas, impactos ambientais e ecológicos.
Estímulos a demanda agregada e emissões de partículas
Isso ainda não tem sido calculado, mas ocorre também que para cada nível de estímulo a demanda agregada e, portanto, de renda, de produto existe atrelado a esta mesma variável um dado volume de emissões de partículas das mais variadas naturezas. Estas partículas são compostos químicos que tem aumentado e se diversificado, principalmente após a revolução industrial, a revolução verde e após a década de 1990 com a abertura das economias do sul durante a globalização. Estas partículas que são expelidas no solo, água, atmosfera etc se deve a extração de recursos como desmatamento e minérios, ao processamento destes tanto na indústria siderúrgica, mineradora, na indústria bélica e na agricultura e ainda na fabricação de todo tipo de produtos, na distribuição, consumo dos mesmos e no descarte dos subprodutos e rejeitos destes.
Impactos das partículas sobre o corpo da mulher
Pela natureza complexa hormonal do corpo da mulher, por se tratar de um organismo vivo, devido a sua especialização, pela sua maior ou menor exposição, estas partículas podem causar sobre o corpo da mulher: a) nenhum efeito, b) efeitos mais leves, c) diferentes efeitos e d) efeitos danosos. Estes últimos, concorrendo para elevar as enfermidades ao longo do tempo, tendendo vagarosamente a um ponto crítico de instabilidade, onde estas enfermidades ganhariam um caráter autocriador, autoamplificador e irreversível. Estudo especificamente o impacto derivado da atividade econômica sobre o corpo da mulher devido ao meu desejo intensivo que consiste em compor e somar com o feminino, logo este se alia a este desejo. Mas também pelo acoplamento estrutural que ocorre entre sistema capitalista e sistema reprodutor feminino e devido a importância, a vitalidade que o corpo da mulher desempenha para a reprodução do sistema capitalista ao continuar renovando a força de trabalho empregada e desempregada como forma de reduzir os salários e manter a taxa de lucro do capitalista.
Modelo explicativo para as enfermidades no corpo da mulher
Portanto, aqui concluo caeteris paribus (c.p) que a enfermidade no corpo da mulher seria uma função da renda, do produto, levando em consideração o volume de resíduos, de partículas emitidas nesta mesma produção. Que as enfermidades no corpo da mulher se daria em função de uma taxa relacionando emissões de partículas pela atividade econômica ao produto de um período. O estudo das emissões, de uma economia das partículas seria um componente importante para se pensar e repensar a saúde da mulher. Este seria o meu modelo que explicaria em parte as enfermidades no corpo da mulher. A expressão caeteris paribus diz que estou descartando outras causas que afetam a saúde da mulher. No modelo abaixo as expressões ‘enf’ se referem a enfermidades no corpo da mulher, ‘Y’ a renda e ‘P’ a partículas.
enf = Y / P
Como a atividade econômica, os impactos sobre o meio ambiente derivados desta mesma atividade e as emissões de partículas e seus efeitos no corpo da mulher não ocorrem tudo ao mesmo tempo – pelo menos não antes de um ponto crítico – mas levando em consideração uma defasagem, apresento a seguir o mesmo modelo levando em consideração esta mesma defasagem. Concluo, descartando outras causas que afetam a saúde da mulher que, a enfermidade no corpo da mulher no momento presente seria uma função da renda, do produto, levando em consideração o volume de resíduos, de partículas emitidas nesta mesma produção num período anterior.
enft = Y / P(t-n)
Ou ainda, as enfermidades no corpo da mulher em um dado período no futuro seria explicado pelo crescimento econômico, pelo nível de atividade econômica no momento presente, considerando o volume de emissões de partículas relacionadas a esta mesma atividade. Novos desdobramentos a partir de um ponto crítico não descartaria outras complicações como um ponto crítico de enfermidade e/ou até mesmo um ponto crítico de infertilidade.
enft+n = Y / P (t)
E ainda, as enfermidades no corpo da mulher ocorreria em função de uma taxa que relacionasse tantas partes de partículas ao volume de renda, emprego gerado em determinado momento. Algo como
enft+n = P / Y(t)
Então segundo o gráfico, estímulos a demanda agregada (DA), visando a elevação do produto e do emprego por meio de políticas econômicas, elevam o produto (Y), o número de partículas (P) e as enfermidades (enf) no corpo da mulher.

Quando o estímulo a demanda agregada é igual a zero, diz-se que não existe governo, algo que estimule esta demanda. Este caso corresponde aquele em que o consumo autônomo é o único componente da demanda agregada. Este é um consumo onde não existe aquele consumo induzido, seja por publicidade, pelo fetiche da mercadoria ou por estímulos do governo. Neste caso, as pessoas consumiriam apenas itens de necessidade básica. Trata-se de um caso hipotético, não observável na vida real. Este caso corresponderia àquele consumo observado em níveis pré-industriais. Neste caso, a renda seria Y0 e existiria um nível muito baixo de partículas circulando e portanto, o nível de enfermidades devido a atividade econômica no corpo da mulher também seria menor. No entanto, ao inserir a publicidade, o governo, com estímulos a demanda agregada por meio de estímulos ao consumo, investimento, gastos do governo e às exportações, a demanda agregada se eleva para DA1, gerando uma elevação no produto para Y1. Como toda atividade econômica seja ela dada por investimento, consumo, gastos do governo ou exportações ocorre em função do meio e elimina neste mesmo meio um volume de partículas, impactos ambientais e ecológicos, o número de partículas movimentadas, dispensada no ambiente também se eleva indo para P1. Partindo do pressuposto que uma determinada parte destas partículas causem um certo número de enfermidades no corpo da mulher, o volume de enfermidades também se eleva de enf0 para enf1.
Acredito que a curva de enfermidades relacionada ao produto é mais horizontal, mais achatada que a curva de estímulos relacionado a demanda agregada. Isso porque nem todos os estímulos a demanda agregada causarão enfermidades e nem todas as partículas causarão enfermidades e as enfermidades seriam uma espécie de resíduo do crescimento econômico e das partículas eliminadas. Enfim, é necessário um dado esforço econômico e um dado esforço na eliminação destas partículas para se atingir um determinado volume de enfermidades no corpo da mulher. Haveria portanto, um ponto treshold, um ponto de corte, a partir do qual começariam a surgir estas enfermidades.
O governo com a intenção de elevar o volume de renda, de emprego, de tornar as pessoas mais felizes, corrigir as desigualdades sociais por meio da implementação dos seus respectivos planos de governo, intensificaria mais uma vez a demanda agregada, promovendo exportações, investimento e o consumo das famílias, o que faria a curva migrar de DA1 para DA2, conduzindo a economia com um nível e produto em Y2 , elevando consequentemente o volume de partículas e de enfermidades nos corpos das mulheres de P1 para P2 e de Enf1 para Enf2. Oportunamente, seus gastos haveria de se elevar mais uma vez para combater estas enfermidades, elevando num segundo momento o volume de partículas. Enfim, políticas de estímulo ao crescimento econômico encabeçadas pelos vários países ao redor do globo acabaria elevando os níveis de renda, emprego etc, mas também diversificando e elevando os níveis de emissões das mais diversas partículas, concorrendo para o adoecimento do corpo da mulher, tendendo a um ponto crítico de instabilidade.
Resumidamente, o gráfico abaixo expressa a relação entre a relação entre partículas emitidas e atividade econômica (P/Y) às enfermidades no corpo da mulher. Esta simplificação será importante para integrarmos este pensamento ao modelo IS-LM que são os modelos base que se estuda nas universidades de economia do mundo, para as tomadas de decisões e criação de políticas econômicas na atualidade.

A partir de um determinado ponto, próximo a um ponto crítico, um ponto de passagem do equilíbrio para o não equilíbrio, acontecimentos inéditos, inesperados começariam a ocorrer (emmergence), primeiramente de forma isolada e poderiam ocorrer tanto em grupos de mulheres, em determinadas regiões do globo e/ou no corpo de cada mulher. Com o estímulo a demanda agregada, do produto e da renda, estes pontos atingiriam um ponto crítico e passariam a ocorrer de forma sistêmica. A partir deste ponto, estes sintomas em grupos de mulheres e ou em uma mulher isoladamente, passariam a adotar um padrão autorecursivo e autocriador, onde as enfermidades de um período passariam a ocorrer em função das enfermidades de um período anterior. Este ponto chamo de ponto crítico de enfermidade que é similar ao que ocorre em epidemias. As ocorrências num dado período passam a alimentar as ocorrências num período posterior. No modelo explicativo abaixo enf correspondem a enfermidades no corpo da mulher, t a tempo e ‘n’ quantidade de anos no passado. Este modelo diz que as enfermidades no corpo da mulher no tempo presente ocorrem em função das enfermidades num tempo passado.
enf = enf (t-n)
Pressupondo uma alça de retroalimentação, novos desdobramentos podem conduzir este estágio de coisas para um ponto crítico de enfermidade ou a um ponto critio de infertilidade. A partir deste ponto crítico e seus desdobramentos, as enfermidades no corpo da mulher começariam a afetar a sociedade, instituições etc. Por exemplo, mediante a emergência desta situação poderia ocorrer reduções na força de trabalho, gerando inflação de custos e/ou o Estado se encontraria numa situação de ineficiência para restabelecer o equilíbrio.
A partir deste ponto crítico, os modelos descritos anteriormente não mais funcionariam, pois a partir de um ponto crítico, independente dos estímulos a demanda agregada, a atividade econômica, os efeitos da atividade econômica sobre o corpo da mulher não mais cessaria. Este caso, se refere àqueles em que determinada conduta geradora de enfermidades de tanto ser estimulada, repetida e praticada, acabaria sendo transferida para a estrutura, no caso, ao ambiente ou ao próprio sistema econômico. Este caso estaria relacionado àqueles casos em que porque se adotou um comportamento ‘x’ no passado, ou adquiriu determinada enfermidade no passado, inevitavelmente desenvolverá uma outra enfermidade ‘y’ ou ‘z’ no futuro. Podemos tomar como exemplo a epidemia de SARS – COV – 2 (Covid19). Por se tratar de uma doença emergente, se a visualizamos como um impacto ecológico, podemos dizer mudanças nos usos do solo, acarretaram a epidemia que oportunamente causaram as variadas sequelas. Trata-se de um caso em que os efeitos não estão ligados a uma única causa. Na atualidade nota-se um descolamento dos casos de câncer no corpo da mulher com o crescimento econômico. Não se seria o caso, mas até certo momento o aumento dos casos de câncer na mulher acompanhava o crescimento econômico. No entanto, o que se observa é que nos momentos crise econômica, de recessão, os casos de câncer continuam a crescer ao passo que o crescimento é reduzido. Poderia se argumentar que não existe nenhuma relação entre crescimento e enfermidades no corpo da mulher. Mas pelo contrário, isso parece mostrar que existe um risco das enfermidades descolarem das causas que lhe deram início.
Enfim, por quê apresentar um cenário tão desolador, tão pessimista? Quando se considera a emergência climática, as respostas não são mesmo animadoras. No entanto, este cenário dramático serve para orientar na construção de alternativas, de linhas de fuga em relação ao caminho que se está trilhando. É importante olhar para esta realidade para saber como ela está e a partir daí sugerir alguma alternativa, se necessário. É importante cuidar do corpo da mulher porque dele, por enquanto, depende a persistência da espécie e a estabilidade das instituições e sociedade. No entanto, para se cuidar do corpo da mulher é necessário primeiro e simultaneamente cuidar do corpo de Gaia. Não há como cuidar do corpo da mulher sem antes cuidar do corpo de Gaia. Todos os cuidados dispensados ao corpo de Gaia são em última instância dispensados também ao corpo da mulher. E todos os malefícios dispensados ao corpo de Gaia são também, em último grau dispensados ao corpo da mulher. É importante que os governos neste momento de emergência climática e de intensificação de eliminação de partículas tóxicas, radioativas e pesadas no ambiente, tenha em mente estes pontos críticos de passagem do equilíbrio para o não-equilíbrio envolvendo a saúde da mulher. Os comitês de política econômica, bem como os comitês de saúde em nível nacional, em diversos países deveriam levar esta situação em conta. No mundo de hoje, não há mais lugar para se pensar em moldes de década passada, ou seja, um pensamento que não seja ecofeminista. Muitos autores, pensadores econômicos, embora sustentado e mantido por elas, esqueceram de incluir a mulher e o corpo da mulher em suas pesquisas. Daí a necessidade de efetuar esta correção, de fazê-los lembrar disso, de efetuar este resgate a nível do pensamento. Isso porque é neste resgate que está a transformação do mundo tal qual o conhecemos. Em publicações futuras continuarei construindo este pensamento. E muito provavelmente no próximo tratarei dos modelos IS-LM e seus efeitos sobre o corpo da mulher.
