Embora quem tenha me ensinado os primeiros acordes, me falado sobre harmonia funcional e me colocado em contato com a música caipira tenha sido meu pai, isso quando eu era criança, o primeiro contato com a viola caipira foi visual e se deu por meio do meu avô da parte materna. Ele morava com minha bisavó numa casa antiga localizada na rua Bernardo Sayão onde hoje é a eletrônica do Leomar, na cidade de Iporá. Entre a Avenida Lambari e Avenida Rio Claro. Ele tinha uma viola, guardava essa viola com muito esmero numa caixa de madeira e não deixava ninguém tocar nela. Isso nos idos anos 80. Talvez eu o tenha visto uma vez ou outra, sentado no terreiro ponteando. O segundo contato nasceu da vontade de tocar uma música modal na viola caipira quando em 2012 adquiri uma viola. Eu já tocava violão desde 2009, tinha descoberto a música modal em teses de mestrado e doutorado e também por meio da banda Vanguart e Engenheiros do hawaii. E realizei meu sonho. De 2011 a 2015 compus muitas músicas usando os modos. Depois passei a considerar os modos e a harmonia funcional (hibridismo) e agora, volto aos modos (Especialmente lídio), exclusivamente e talvez de maneira definitiva.
Sobre as afinações da viola de 10 cordas
A viola caipira (ou viola de 10 cordas) apresenta várias possibilidades de afinação. Então no início usei a afinação Ré (D) cebolão que é a mais comum, depois usei a Mi (E) cebolão, a afinação natural que é uma afinação muito parecida com a afinação padrão do violão e por fim, como não conseguia me adaptar às dificuldades inerentes a minha pressa por resultados, passei a investigar uma afinação que me trouxesse resultados mais rápidos, que fosse mais fácil, foi quando descobri as afinações chamadas por mim de Serra Lizarda e Rio Claro. Eu tinha dificuldade de executar os acordes nas afinações D e E cebolão. Eu as batizei porque não são afinações utilizadas por outras pessoas, são inéditas. Exceto a afinação aberta em Em menor (Serra lizarda) que no livro “A arte de pontear viola’ há um, apenas um relato de uma pessoa que a utilizava no interior do Estado de São Paulo. Como fiz para descobrir estas afinações? Usei análise combinatória. Por meio da análise combinatória descobri várias possibilidades de afinação, exclui aquelas mais inviáveis e fui testando as demais no software Guitar Pro e Tux Guitar.
A princípio usava a afinação aberta em Ré menor (Dm) (Serra Lizarda em D). No entanto, neste ano de 2025 por influência do Luthier Romeu, passei a usar a afinação aberta em Em (Serra Lizarda em E). O nome Serra Lizarda se deve a uma homenagem a serra localizada no Município de Moiporá, talvez Ivolândia que leva o mesmo nome. Gosto porque gosto da serra. É uma serra interessante que vista de longe tem o formato de pirâmide. Mais tarde descobri que Lizarda é a bisavó de uma jovem muito popular na cidade de Iporá.
Qual a diferença entre a afinação cebolão e Serra Lizarda?
Afinação em E cebolão é dada pelas seguintes notas, de baixo para cima.

E B G# E B
Já a Afinação serra lizarda em E é composta por:
E B G E B

Quando a viola está afinada em E cebolão ao tocá-la com todas as cordas soltas você executa um acorde de E Maior. E quando afinação está em Em, quando você toca a viola com todas as cordas soltas, você executa um acorde de Mi menor (Em). Portanto, a diferença está no terceiro par de cordas que é abaixado meio tom de G# para G. Se a sua viola está afinada em E Cebolão, abaixando o terceiro par de cordas em meio tom, você obtem a afinação serra lizarda. Do mesmo modo, se está afinada em D cebolão, abaixando o terceiro par de cordas em meio tom (De F# para F), você obtem a afinação Serra lizarda em D. Para a afinação Serra Lizarda em E é aconselhável usar as cordas cobra tensão leve que são as que eu uso. Para a afinação Serra Lizarda em ré D, aconselha-se usar o encordoamento cobra, tensão média.
Quais as vantagens em usar a afinação Serra Lizarda
Primeiro está se executando uma afinação inédita que ninguém mais usa e isso pode ser um diferencial no som e na atmosfera do som emitido. A execução dos acordes na afinação Serra Lizarda é mais simples. Você pode usar pestanas para executar todos os acordes maiores, menores e com 7m, com isso você ganha no aprendizado e apresenta resultados mais rápidos e não esmorece ao longo do caminho. Não obstante, ser passível utilizar esta afinação ( como as cebolões) também em outros instrumentos como o Banjo e ou Bouzouki. Inclusive, já usei esta afinação no Ukulelê e no Bandolim. No Ukulelê Soprano sinto que a quarta corda fica muito tensa, gritando. A respeito das escalas duetadas, por se tratar de uma afinação muito simétrica, ela facilita também na realização das escalas duetadas. Ao passo que nas cebolões existe um padrão para cada escala e que pode nos levar a confusão e a difícil memorização, na Afinação Serra Lizarda dá pra usar o mesmo padrão, a mesma disposição dos dedos tanto para terças, sextas e quartas.
Se você usa a escala Lídio, a afinação Serra Lizarda pode ser interessante
Se você como eu, usa a escala lídio, especialmente Fá Lídio, a nota Si (B) é a nota característica desta escala que será enfatizada em suas composições. E a afinação Serra lizarda apresenta uma vantagem, pois o segundo e o quinto par de cordas estão afinados em B. Portanto, independente de qual acorde, sequencia de notas você tocar, você poderá usar as cordas soltas já que tocará o B. Do mesmo modo, o acorde de Em faz parte da escala lídio, então, não importa, a música que estiver tocando. Se ela estiver em Fá lídio, você poderá usar e abusar das cordas soltas o que facilita o uso da viola e mais importante, traz intenso colorido a sua execução. Portanto, uma afinação muito adequada ao Fá lídio.
